Que país é esse?
Que o Brasil tem coisas boas e problemas, ninguém duvida! Mas, em alguns assuntos somos muito bons, especialmente para ficar no topo do ranking de temas problemáticos, como o da burocracia, da corrupção, da má-qualidade do ensino, entre outros.
Todavia, assusta mais ainda saber que numa pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgada dia 28/agosto/2014, feita em 34 países, o Brasil é o primeiro no ranking na violência contra professores. A pesquisa entrevistou 100 mil professores e diretores de escola do ensino fundamental e do ensino médio (alunos de 11 a 16 anos).
Assustadoramente, 12,5% dos professores brasileiros relataram ser vítimas de ameaças e agressões verbais de alunos ao menos uma vez por semana. Atentem-se “são vítimas” e não “foram vítimas”.
Ou seja, a ameaça é permanente. Quem teria vontade de trabalhar nessas condições?
A pesquisa não abordou, mas essa violência também tem acontecido nas Faculdades, especialmente as privadas onde alunos são vistos como “consumidores/clientes”; sendo que o “cliente sempre tem razão”, podendo tudo inclusive acuar o professor. Anos atrás, houve um caso na Cidade de São Paulo em que um aluno sacou um resolver e atirou contra um professor universitário, tendo o tiro atingido a lousa.
Esse dado da pesquisa, de 12,5% de professores brasileiros violentados, revela muitas coisas, entre elas a desmoralização pela qual a classe do professorado tem passado. Se no passado ser professor era sinônimo de respeito na sociedade e até de status, hoje ser professor significa sofrimento constante. É bem verdade que muitos professores optaram pela carreira pela falta de oportunidade em outras áreas profissionais, não tendo qualquer vocação para o ofício. Outros que terião total vocação, deixam de lado essa profissão pela baixa remuneração, precariedade nas condições de trabalho e falta de reconhecimento da população em geral.
Nem seria preciso dizer que a falta de respeito aos professores está totalmente associada com a falta de educação em casa de nossas crianças e jovens. Nos últimos anos, muitas famílias optaram por uma educação em que é proibido proibir. Uma linha psicológica “barata”, em que as crianças não podem ser castigadas; tem direito a ter tudo o querem, devendo os pais atender a todos os pedidos. Esperar?
Jamais! Hoje quem manda em casa são os filhos; os quartos das famílias de classe média são verdadeiros parques de diversão, tantos brinquedos a ponto das crianças enjoarem de todos, querendo sempre mais. Muitos pais consciente ou inconscientemente vão fazendo pelos filhos tudo o que queriam ter ao longo da infância e não tiveram oportunidade: aula de balé, de escola de futebol, determinados brinquedos de maior valor, etc. Pais de verdade de verdade não desejam que os filhos tenham tudo o que queiram, mas que tenho aquilo que merecer e realmente desejar. Além disso, há uma máxima que diz: “quando o recurso é banalizado perde-se o valor”.
Não é uma regra absoluta, pois conheço filhos únicos e casais sem filhos que são extremamente generosos, mas o egoísmo formado em volta de filhos únicos e daqueles casais que optam voluntariamente por não ter filhos é muito grande. Isso pode se refletir na escola, pois se trata de um ambiente coletivo, em que o “eu” é mais um e não o “único”.
Sem dúvida que a falta de educação e disciplina em casa reflete no desrespeito aos professores.
Normalmente aqueles que desrespeitam professores são seres que também não respeitam seus pais, avós, tios, vizinhos e outras pessoas. Confesso: não sei onde vamos parar...
Comparativamente, a média entre os países pesquisados foi de 3,4% de professores violentados, enquanto o nosso índice foi de 12,5%. Só para se ter um ideia do contrário, países como a Malásia, a
Romênia e a Coreia do Sul têm zero de violência contra professores. No Brasil, 20% do tempo da aula são destinados para os professores ficarem chamando a atenção de alguns alunos, tentando estabelecer a ordem na sala, pois estes alunos não estão acostumados à disciplina, nem em casa nem fora dela. Não é a toa que a Coreia, país massacrado há poucas décadas, tendo investimento fortemente em educação está na iminência de ser o líder em renda per capta do mundo (como nos lembrou o jornalista Alexandre Garcia).
É verdade que abusos e agressões de professores contra alunos também existem, devendo ser combatidos; se for o caso, até com processos criminais e administrativos. Não se justifica, mas é bem verdade que boa parte das atitudes dos professores é decorrente da falta de preparo para o magistério,assistência, infraestrutura, baixos salários, problemas de ordem moral e psicológica, entre outras.
Diante desses fatos, nos vem à mente aquelas músicas: “Que país é esse?” ou “Deixa a vida me levar!”. Contudo, a escola precisa de mais investimento sim, mas “educação vem de berço”, começa em casa, sendo que teremos mais legitimidade para cobrar mais quando fizermos a nossa parte. Senão repensarmos o modelo de educação que nossos brasileiros estão recebendo (ou não recebendo) em casa, consequentemente a escola tende a ser um campo de guerra.