Figurinhas da Copa

Entre tantos negócios que a Copa já vem promovendo, direta ou indiretamente, algo tem chamado muito a atenção: os álbuns e figurinhas da Copa. Apesar de não ser uma novidade, é uma febre Brasil afora. 

Quando criança também tive álbuns e figurinhas. Adorava comprar, colar, trocar e bater figurinhas. Pelo que me lembro nunca cheguei a completar nenhum álbum, mas acho que isso não tenha se transformado em uma frustração; em caso positivo, está superada. 

Há três semanas foi com meu filho a um estacionamento de um shopping center da cidade onde pessoas se encontram aos domingos pela manhã para trocar figurinhas. Fiquei surpreso ao ver aproximadamente cem pessoas realizando as “negociações”. Mas neste domingo foi demais: fomos a outro ponto de encontro e trocas (um mercado tradicional da cidade). 

Nestes tempos em que boa parte das negociações é feita eletronicamente, vi pessoas trocando física e presencialmente, como nas feiras da Antiguidade e da Idade Média. Em pleno domingo de manhã um congestionamento de veículos e sem lugar para estacionar nas imediações. Precisei deixar minha esposa no volante para ir a pé com meu filho até o local. Penso que havia mais ou menos mil pessoas na calçada e pracinha da localidade (fora as que já haviam passado e que passariam por lá). Outras coisas também me chamaram a atenção. 

Primeiro foi o fato de ver que as crianças de hoje poderem ter interesse também em brincadeiras que não envolvam necessariamente internet e aparelhos tecnológicos em geral, como o smartphones e tablets. 

Secundo, vi pais acompanhando seus filhos nas brincadeiras, algo cada vez mais difícil tendo em vista a terceirização para babás, escolas de futebol, ballet, artes marciais, casas especializadas em brincadeiras, aparelhos eletrônicos, celulares, computadores, etc. Às vezes os pais até levam seus filhos para brincar, mas não conseguem desgrudar dos seus smartphones. 

Outro dia vi um pai jogando tênis com seu filho, mas falando ao celular. 

Terceiro, entre aquelas mil pessoas que estavam realizando as trocas de figurinhas, seguramente, pelo no mínimo 3⁄4 (três quartos) delas eram adultas. Muitas ajudando seus filhos na negociação ou mesmo realizando as trocas por eles; outros adultos estavam em busca de trocas para seus próprios álbuns. Ou seja, surpreendentemente os adultos perderam a vergonha e voltaram a brincar. Que legal! Mas, adulto brincando de criança ou com criança é algo curioso, pois conversando com alguns percebi uma necessidade muito grande em se preencher o álbum rapidamente. Uma grande ansiedade no ar. 

Nas vinte e quatro horas que antecederam nossa visita a este ponto de troca, ouvi de três crianças que já haviam preenchido o álbum, e pelo que percebi das conversas os pais procuraram comprar logo um monte de pacotes de figurinhas e conseguir muitas trocas com o fim de se obter rapidamente o preenchimento do álbum (uma criança me disse que seu primo em um só dia ganhou seiscentas figurinhas). Vi claramente que para estas crianças que já preencheram o álbum, de certa forma, o interesse pela brincadeira está se perdendo. Imagino que a graça de colecionar figurinhas está justamente nas aquisições espaçadas, na expectativa e surpresa pela abertura dos pacotinhos (esta eu tenho! esta eu não tenho!). 

No meu tempo também havia troca de figurinhas, mas era com os vizinhos, no recreio da escola, com os primos. Agora as trocas envolvem toda a população da cidade e arredores e têm dia, hora e ponto certos de encontro, que começaram a partir de contatos pela internet, o que por si só não é ruim. A questão é o fato de que se você tiver figurinhas para trocar, em um único dia você pode conseguir todas as que você estiver precisando. Em pouco tempo a brincadeira terá perdido a graça. Apesar de ser apenas uma dúzia de figurinhas, meu filho em poucos minutos conseguiu trocas todas as suas repedidas. Não ficou nenhuma para eu bater com ele. 

Quarto, apesar de a empresa responsável pela produção e distribuição dos alguns e figurinhas disponibilizar canais de contato, pela internet ou não, para aquisição das figurinhas faltantes, fui abordado por uma pessoa oferecendo seu número de celular para venda de quaisquer figurinhas que 
precisássemos. 

Que negócio?! Que ansiedade!