Tecnologia, ansiedade, etc.
Dentre os vários
prazeres que o ser humano pode usufruir, sem dúvida, está o de alimentar-se,
vestir-se, viajar, dormir, amar, “teclar”, “navegar”, etc.
Pois bem, amanheci em
bom hotel da maior cidade do Brasil. A sala de café da manhã era suntuosa, com
uma variedade de alimentos e bebidas que não me lembro de ter visto outra
assim. Diante de tantas excelentes opções para o desjejum surgem as dúvidas
sobre o que “pegar”. Não culpo aqueles (especialmente os que não têm acesso
frequente a este tipo de ambiente, como é o meu caso) de exagerar um pouco
cometendo o pecado da gula.
Mas o que me choca
efetivamente não é necessariamente a gula de poucos, mas a fobia de muitos
outros. Explico! Sentado tomando meu café da manhã, com certa calma (pois
acordei mais cedo para isso), pude observar do local onde estava uma série de hóspedes,
literalmente, engolindo alimentos e bebidas sem sequer se darem conta do que
estavam fazendo. Isso porque, em razão da ansiedade que a tecnologia tem
promovida em muitas pessoas, estavam muito mais preocupados em olhar e manusear
seus smartphones do que efetivamente
em apreciar os alimentos que ali estavam. Acho difícil que às sete horas da
manhã efetivamente se tenha muito trabalho profissional a ser resolvido.
Alguém poderia dizer,
eles estão apenas lendo o jornal em formato eletrônico ao invés de impresso.
Gostaria muito que isso fosse verdade, mas o que se vê nas tê-las dos telefones
são imagens de redes sociais já bem conhecidas, cujo conteúdo já sabemos que
nem sempre são informativos e enriquecedores.
Quando se tinha o
hábito de ler o jornal impresso durante o desjejum, isso era possível porque o
tipo de pessoa que mantinha esse ritual era daqueles que podiam usufruir de
pelo menos uma hora para essa refeição, dividindo o tempo entre a apreciação
dos alimentos e se informando com as notícias. Hoje café da manhã não pode
durar mais do que quinze minutos (tempo é dinheiro), isso quando não é feito
sobre a mesa de trabalho, no automóvel ou transporte público.
Na manhã seguinte,
deslocando-me na periferia de São Paulo vi dezenas de pessoas no ônibus e no
metrô com seus smartphones, tablets, fone de ouvido, enfim, a mais
variada parafernália tecnológica. Cada um na sua. Ninguém mais fala bom dia ou
boa tarde; a preocupação é manusear o equipamento! Cada aparelho cujo preço
beira os dois mil reais, e eu com os meus dois aparelhos ganhados em promoções
de operadora de telefonia. Os aparelhos fazem quase tudo, até ligação para
outro telefone se você quiser. Acontece que, muitos com estes aparelhos não têm
sequer condições de adquirir o “crédito pré-pago” para realizarem ligações à
outras pessoas que tenham linhas de outras operadoras. Além disso, tenho visto
que a pessoa para justificar, para si e para outrem, o investimento na
“máquina” que faz quase tudo acaba utilizando aplicativos que não tem o menor
sentido para a ocasião e para ela.
Em pé no metrô,
observei duas amigas sentadas tentando conversar, mas não conseguiam manter um
diálogo razoável pois ambas estavam muito preocupadas com os seus dois
joguinhos, sendo um deles de bolinhas que caiam umas sobre as outras (acho que
nem meu filho de quatro anos se interessariam por tal jogo, mas cada um cada um).
Outro dia presenciei no
campus da UEL (quase pedi para tirar uma foto) quatro amigos sentados
conversando, mas cada um manuseando seu tablet.
Ou seja, ninguém estava ali efetivamente, apenas o corpo, mas não a alma. Em
janeiro, estive na praia e cheguei a conclusão de que aquele que inventar smartphones e tablets a prova d’água ficará milionário, pois eram várias as
pessoas que não saiam de suas cadeiras, para sequer molhar os pés, em razão do
“entretenimento” com suas máquinas.
Senão fosse tudo isso, me choca ainda mais
aqueles pais e mães que estão trocando o tempo com seus filhos pelos
equipamentos e mídias sociais. Que pena! Estão perdendo um tempo precioso em
poderiam interagir, brincar e estar com os pequenos. Um tempo que passa rápido e
não volta mais.