Que ansiedade é essa?
Ansiedade de alguma forma está relacionada à necessidade de querer antecipar fatos. O ansioso está sempre “pré” ocupado, pois se ocupa com muita antecedência a situações que podem ocorrer.
Alguns dizem que a ansiedade é o mal do século (Augusto Curry. Ansiedade: como enfrentar o mal do século. São Paulo: Saraiva, 2014).
Embora alguns comportamentos ansiosos possam encontrar
alguma justificativa, como as responsabilidades que se tenha ou estar preparado
para algo que venha acontecer; em grande parte a questão é ficar “queimando
neurônios” com muita antecedência com ‘situações’ que não acontecerão e, se
acontecerem, não serão necessariamente como se imaginou previamente.
Contudo, há um cenário em que do ponto de vista racional a ansiedade não faz qualquer sentido, sendo um fenômeno denominado como “efeito manada” (alusão ao fato de que, numa boiada, quando um boi vai para uma direção outros acabam o seguindo). É o caso do embarque em aviões comerciais. Explico melhor.
Quando se está na sala de embarque em aeroportos, antes mesmo de ser anunciado
o início do embarque em certo voo, o que se vê são pessoas já formando a fila. Quando
é feito o anúncio do embarque, aí a maioria das pessoas se apressam em
dirigir-se para a fila em busca de uma melhor colocação nela para assim
conseguir embarcar o quanto antes (às vezes sai até discussão por conta disso).
A questão que fica é: se o avião é o mesmo para todos os
passageiros, por que antecipar-se ao embarque querendo fazê-lo na frente das
demais pessoas? A aeronave não sairá no mesmo horário? E, os lugares não são
marcados e numerados? Se fosse o caso de transporte público de trem ou de ônibus
municipal em que pessoas esperam nas paradas/pontos sem a organização de filas para
embarque, sem assentos marcados para cada passageiro, a conduta de querer
chegar primeiro ao assento faria algum sentido: viajar sentado e de forma mais
confortável; ou, embarcar no primeiro ônibus ou trem que passar.
Entretanto, no caso dos voos comerciais não há risco de o
passageiro ficar sem lugar, pois o assento de cada um está previamente reservado
e marcado. Além disso, o avião vai sair e chegar no mesmo horário
independentemente de quem embarcou primeiro ou por último. Sem dizer que,
aqueles que embarcam primeiro ficam sentados e “presos” em seus lugares por
mais tempo, sendo que isso pode inclusive trazer implicações para saúde, como o
risco de trombose em razão da diminuição da circulação sanguínea. Quer dizer
que do ponto de vista biológico é melhor embarcar por último, pois o tempo
sentado seria menor.
O avião decolou e pousou, e agora? Tem mais ansiedade!
Embora os comissários de bordo insistam para que as pessoas permaneçam sentadas
e mantenham os cintos de segurança afivelados até que a aeronave estacione, bem
como que os celulares não sejam usados, frequentemente o que se vê são pessoas
“ansiosas” soltando seus cintos, falando ao celular, e alguns até ficando em pé.
Além disso, há quase que um desespero coletivo por abrir o compartimento de
bagagens para retirá-las (efeito manada).
Neste caso, do ponto de vista biológico, pode-se pensar na
necessidade em se levantar em razão do tempo em que se ficou sentado e o risco
da trombose; porém, na prática, o eventual “ganho” de tempo é insignificante uma
vez que o avião abrirá as portas no mesmo horário para todos. Além disso, é
preciso esperar para que aqueles que estejam na frente desembarquem
primeiramente. O melhor seria levantar e esticar as pernas durante o voo, dando
uma caminhada no corredor da aeronave; mas a maioria das pessoas não está
preocupada com a circulação sanguínea. A questão é outra: a ansiedade!
Muitos ficam exprimidos no corredor da aeronave enquanto a
porta não é aberta; outros ficam contorcidos nas fileiras da janela, já que não
da para ficar plenamente de pé. Tudo isso para “ganhar” alguns segundos no
desembarque.
Sem dizer que, boa parte dos passageiros ainda precisará esperar suas malas na esteira de devolução de bagagens, sendo que a ordem de entrega dos pertences é totalmente aleatória, sem qualquer controle do passageiro. Enfim, tal fato cotidiano explica bem o tempo em que estamos vivendo, um tempo de ansiedade!