Carnaval: com celular e sem Zezé

Assustei-me quando um colega me disse que no Carnaval desde ano seria ‘condenável’ tocar certas marchinhas, como, por exemplo, “Olha a cabeleira do Zezé! Será que ele é...”, entre outras que, para os tempos atuais, seriam politicamente incorretas em razão do ‘potencial’ ofensivo a determinadas pessoas.

 

Não vou entrar no mérito se algumas pessoas estão ou não mais ou menos fragilizadas em relação a tempos passados. O fato é que, no Brasil, Carnaval sem marchinhas é no mínimo esquisito.

 

Além disso, num país onde as minorias estão tentando falar pela maioria, querendo impor suas opiniões a qualquer custo, não haveria mais lugar para humoristas como Costinha, o qual era ‘rei’ em fazer rir com argumentos e assuntos que hoje talvez o levassem a prisão, por pretensa ‘discriminação’.

 

Porém, em substituição ao velho humor e diversão, nos últimos anos estamos vendo um novo protagonista, o smartphone, inclusive no Carnaval. Explico. A primeira vez que vi um “pau-de-self” foi a alguns anos na beira da piscina de um hotel ‘pé na areia’. O senhor do artefato, até então uma novidade no Brasil, ao invés de aproveitar a piscina e a praia com os filhos preferiu ficar autofotografando-se.

 

Mais recentemente, num parque aquático, percebi algumas pessoas alugando uma espécie de envelope de plástico que permite embalar o celular e assim manuseá-lo, mesmo dentro d’água. “Até aí, vá lá!”. Acontece que estas mesmas pessoas preocupavam-se mais com o aparelho envelopado do que com as diversões do parque. Chegava até ser estressante para elas ao se lançarem nos escorregadores e toboáguas, diante da importância dada ao aparelho; preocupavam-se mais com o smartphone do que com o entretenimento em si.

 

Voltando ao festejo, no passado, ‘pulava-se’ Carnaval ao som das marchinhas e com os dedos indicadores apontados para cima [independentemente de eu gostar ou não desse estilo]. Agora não! Mãos e dedos precisam estar à disposição da majestade, que não é o Rei Momo mas o smartphone, verdadeira paixão nacional [e mundial, talvez].

 

Contudo, parece que não existe mais diversão sem smartphone [ou será que ele é que está deixando tudo meio sem graça?]. Assim, tudo leva a crer que o nosso Carnaval será com muito celular e pouco Zezé!